Dizem que quem é
grande não chora. Não é meu caso! Cresci, mas sou capaz de verter
lágrimas por conta de uma simples flor, ou por causa de um
mal-entendido qualquer. Choro solto, como sempre chorei. Sem que, nem
porque, me derreto. Não sou comedida. Não é da minha natureza. Se
gosto, vou fundo e desconfio (muito) das restrições. É por isso
que resisto quanto posso às dietas. Gosto de muito.
Mas há algo pior, que
pensava não afetar gente grande. São as gafes! Cometo gafes
infantis, daquelas típicas dos pequenos que se esquecem filtrar o
que dizem. Não é sempre, mas há momentos em que as palavras saltam
de mim e quicam como aquelas bolas de borracha. Quando me dou conta,
tão quicando em algum lugar, quando não em mim. E tem mais coisa
que me faz esquecer que cresci, e que já até envelheço: o brilho
nos olhos. Não consigo difarçar quando algo me encanta. E me
encanto com as coisas mais simples: uma poesia, uma cor, uma palavra,
um sorriso, um olhar... É assim, mobilizo-me e meu olhar não me
poupa e, se insatisfeito de brilhar, transborda, umedece como a me
desafiar, revelando-me sem pena.
E ainda há coisas que
poucos sabem, especialmente quando percebem os meus arroubos. É que
não tenho mais medo. Não me encolho pelos cantos, nem espero que
alguém venha me empurrar para que eu siga meu caminho. Ganhei
pernas. Corro ou caminho, do jeito que posso e na direção que
quero. Volto quando é preciso e, alguma vezes, vou além: lanço-me
em distâncias mais ousadas, correndo riscos enormes diante de
jornadas que jamais pensei empreender.
Virei essa coisa meio
disforme: alma de criança, pernas de adulto, num corpo que não me
deixa esquecer que o tempo passa. Um conjunto desconcertante de risos
e choros, erros e acertos, que parece querer sempre aprender mais alguma coisa. E o mais estranho é que tenho um orgulho enorme desse
descompasso. E dessa coragem de seguir, mesmo que às vezes não
saiba exatamente para onde.
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