Fechei o livro no
capítulo 14. Maldita hora em que resolvi ler essa “meleca”. A
“meleca” em questão é o livro “50 tons de cinza” que estava
aguçando minha curiosidade há semanas, dado o número de exemplares
vendidos, de amigas e amigos que leram, de estoques acabados nas
livrarias, entre outros fatores que costumam atrair a atenção dos
curiosos. Até o fim da tarde, recomendava a leitura a quem quer que
encontrasse: “experimenta, é uma diversão maravilhosa”, dizia.
Mudei de ideia temporariamente. Estou aqui me contorcendo por causa
desse livro. E certamente não é pelos atributos literários da obra.
Lidando com esses
sentimentos que me forçam, agora, a fazer uma pausa na leitura,
percebo que, certamente, eles nada têm a ver com a postura do Sr.
Grey. As figuras do controle e da submissão, usadas pela autora em
todo o livro, têm mais a ver com uma pergunta que o Sr. Grey faz a
todos que cruzam o seu caminho. Têm a ver com entrega,
disponibilidade... Têm a ver com conhecer sua escuridão pessoal e
seus limites. Têm a ver com a coragem de encarar a si mesmo sem
máscaras, véus, maquiagens.
Não, esse não é um
livro para inspirar reflexões. Mas eu sempre digo que os livros me
escolhem. Foi o caso deste. Raramente leio best sellers e quando já
tinha decidido deixar o modismo de lado, um amigo me acena
tentadoramente o seu exemplar.
Não resisti. E posso
dizer que não deveria mesmo ter resistido. O que acessei em mim está
sendo trabalhoso para elaborar e vai além das sessões de sexo
não-convencional do casal, chegando ao que, para mim, é o ponto
essencial: a entrega nas relações humanas (de todos os níveis). A
relação que os personagens experimentam no livro, carregada de
erotismo, esbarra o tempo todo no quanto e no que cada um está
disposto a entegar de si ao outro. Daí a refletir em minhas
relações, foi um passo curto. Discurso doce, aparentemente frágil,
encobre algo de que não havia me dado conta: não sou uma mulher
muito acessível. As aparências enganam, até a nós mesmos!
Reservo-me, dou pouco
de mim e, me escondo (escondia?), sob a capa do controle. Quem se
ilude com a ideia de controlar a vida tem medo de viver! Pode parecer
normal, estamos cercados de pessoas assim, é a escolha de vida de
muitos. No entanto, a descoberta desse lugar sombrio que eu não
imaginava existir, me pegou de surpresa. Fiquei perplexa diante de
mim mesma! Hoje concluí o livro! Sobrevivi! E a quem interessar
possa, estou feliz, porque os segredos da alma, uma vez descobertos,
deixam de ser segredos, passam a gozar da liberdade e da luz do
domínio público! Refeita, continuo recomendando a leitura! Vamos
aos tons mais escuros!
3 comentários:
Excelente texto! Adorei! Estava sentindo falta de suas postagens por aqui!
Beijos!!!
Q bom, Li! Eu estava sentindo falta de mim! Choquei qdo vi q estava há meses sem escrever e ainda fiquei pensando 2x se deveria escrever! Obrigada por estar aí, pra compartilhar esses sentimentos comigo... Beijo!
O erro do vício é acharmos que não os temos... Controle, é só questão de ponto de vista. Estou aguardando ansiosa a chegada dos 50 tons de Liberadade!!
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