Eu ia dizer que hoje estou assim, mas isto seria uma mentira. Eu SOU assim, e Ferreira Gullar traduziu-me muito bem!
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
2 comentários:
Pensando na pergunta que o Ferreira deixa no final dessa poesia, eu diria que é arte, sim, arte de viver. Sinto que a única forma possível de se viver inteiro é aceitando tudo o que é aparentemente paradoxal em nós como parte inseparável de nós. Aos poucos, talvez, sejamos capaz de entender que o que chamamos de opostos são, na realidade, complementares.
Sim, por isso, sempre gostei da parte em que ele escreve: "é uma questão de vida ou morte". O caminho de perceber a nós mesmos, nessa tentativa de integração/tradução, pra mim, sempre foi uma questão de vida ou morte! Sinto-me viva assim, na busca...
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